work title
date
- do além (o desletramento pela pedra, 2025)
- a pedra da praia de Touros, 2025
- cinco Pedros, 2025
- coisas vivas, 2024
- resistance of Breda or las lápidas, 2024
- mutatis mutandis, 2024
- colonial crime cabinet, 2024
- câmera obtusa, 2022-2023
-
cabeça, corpus e membros, 2022
-
projeto terra de José Ninguém, 2021
- garota do desastre, 2021
-
a imortalidade ao nosso alcance, 2020-2021
-
projeto eaux des colonies, 2020-2021
-
eaux des colonies (les origines), 2020-2021
-
eaux des colonies (en construction), 2021
- espelhos pensantes, 1990/2021
-
good apples | bad apples, 2019-2023
-
exercícios de 3D (transparência), 2019
-
Hercule & Hippolyte, 2019
-
killing Che, 2019
-
Brasil, 2019
-
imagem persistente, 2019
-
seres notáveis do mundo, 2018-2022
-
nuptias, 2017-2023
-
#rioutópico [em construção], 2017-2018
-
bodas de porcelana, 2017
-
bodas de prata, 2017
- Foto Cine Clube Bandeirante: do arquivo à rede, 2015
-
imagem de sobrevivência, 2015
-
operação Aranhas/ Arapongas/ Arapucas, 2014–2016
-
círculo mágico, 2014/2016
-
insólidos, 2014
-
lanterna mágica, 2012
-
Río-Montevideo, 2011/2016
-
corpo extranho africano, 2011
-
per fumum, 2010-2011
-
menos-valia [leilão], 2010
-
memory link, 2009-2010
-
série turista transcendental, 2009-2024
-
os três reinos de Nasca, 2011-2024
-
método básico de assovio Gomero-Tupi, 2014-2016
-
esperando..., 2010-2014
-
mundo da lua, 2013
-
eternidade a dois passos, 2013-2015
-
mi mo, kokoro mo, 2012
-
yanğyin bosphoros, 2011-2012
-
kundalini freedom, 2009-2011
-
Uyuni sutra, 2008 – 2011
-
anuloma-viloma azteca, 2010-2011
-
bouk [ring/loop], 2006-2009
-
Carrazeda+Cariri, 2009
- corpos extranhos, 2009
-
matéria de poesia, 2008-2013
-
o profeta da negociação, 2008
- febre do cerrado, 2008
- febre do sertão, 2008
-
si loin mais pourtant si près, 2008
-
corpo da alma (o estado do mundo), 2006-2009
-
brèd e[k/t] chocolat, 2006-2008
-
frutos estranhos, 2006
-
a última foto, 2006
-
menos-valia [troca-troca], 2005/2007
-
apagamentos, 2004-2005
-
experiência de cinema, 2004
-
corpo da alma, 2003-2009
-
bibliotheca, 2002
-
coopa-roca: 17 artesãs, 2002
-
espelho diário, 2001
-
série vermelha (militares), 2000-2003
-
duplo v, 2000-2003
-
cartologia, 2000
- Vera Cruz, 2000
- parede cega, 2000
- pés de Luanda, 1999
-
vulgo/texto, 1998
- vulgo, 1997-2003
-
cerimônia do adeus, 1997/2003
-
United States (série mexicana), 1997
-
cicatriz, 1996/2023
- wedding landscape, 1996
-
hipocampo, 1995/1998
- antinômio II (frente), 1995-1996
-
círculos viciosos (472 casamentos cubanos), 1995
-
in oblivionem, 1994-1995
-
imemorial, 1994
-
heaven and hell, 1994
-
evaporação de sentido, 1993-1994
- candelária, 1993
-
private collection, 1992-1995
-
private eye, 1992-1995
-
atentado ao poder, 1992
-
a bela e a fera, 1992
-
primários, 1992
- duas lições de realismo fantástico, 1991/2015
- triângulo amoroso, 1991/1992
- amnésia, 1991
- as diferentes idades da mulher, 1991
- obituários, 1991
- puzzles, 1991
- paz armada, 1990/2021
- o cidadão sem qualidade, 1990/2021
- transatlântico, 1990/2021
- as afinidades eletivas, 1990
- os homens são todos iguais, 1990
- qualidades de cidadão, 1990
-
anti-cinema, 1989
- pequena ecologia da imagem, 1988
-
contos de bruxas, 1988
- Alice (analógica), 1987
do além (o desletramento pela pedra), 2025
from beyond (the unlettering by stone), 2025
diferentes formatos
225 x 590 cm
various formats
225 x 590 cm
O monumento consiste em um grupo escultórico – a representação de homens com ferramentas e algo que lembra uma vela – e um muro com inscrições em ambos os lados: um mapa-múndi com as localidades conquistadas por Portugal e um recorte de texto oriundo dos registros das sessões das ‘Cortes Portuguesas’. O trecho em questão refere-se aos Capítulos Especiais da Cidade do Porto das Cortes de 1436, no Reinado de D. Duarte, em que era relatada a condição da cidade do Porto, muito importante para o reino e suas empreitadas navais.
Fotografei o monumento no início de 2024, movida pela sedução de documentar o texto que se encontrava à beira da ilegibilidade. Cerca de 70% das letras haviam desaparecido, deixando apenas um rastro, legível apenas quando se está próximo ao muro. Me questionei se o texto teria sido gradativamente apagado, ao longo de mais de 60 anos de existência...
Ao retornar ao Porto em 2025, percebi que o texto tinha sido totalmente refeito, com novos caracteres metálicos, além de uma limpeza completa do conjunto. Um erro na recolocação das letras despertou em mim uma questão semântica/poética interessante e decidi refotografar o texto. Em 1960, a palavra ‘sabeẽs’ do texto original do século XV tinha sido atualizada para o português contemporâneo como ‘sabíeis’. No restauro realizado em 2024, uma letra ‘i’ foi esquecida e o tempo verbal foi alterado.
Na versão anterior ao restauro, também me parecia mais interessante o vácuo criado pela aleatoriedade no posicionamento das letras que sobraram do que o texto propriamente dito, que hoje, por diversas razões, parece muito distante do nosso cotidiano. Meu desejo/propósito foi então devolver ao monumento o desletramento produzido pelo tempo. Além do mais, acredito que, no modo indicativo, um pretérito imperfeito é mais adequado do que um falso presente.
Nota: o subtítulo é uma clara referência ao poema de João Cabral de Melo Neto, intitulado A educação pela pedra, publicado em livro homônimo em 1966.
O trecho original está em português arcaico: “E veendo el rrey esto em como ouue em ella grande poderio de naãos quando forom a cepta que forom bem lxx naãos e barchas afora outra mujta fustalha que nom sabeẽs huũ soo lugar na espanha de que tam poderosa armada pudera sair”.
Lia-se a seguinte frase no muro do monumento, já atualizado para o português moderno: “.. E VENDO EL-REI ISTO, EM COMO HOUVE EM ELA /GRANDE PODERIO DE NAUS QUANDO PASSOU A CEUTA, / QUE FORAM BEM SETENTA NAUS E BARCAS, AFORA OUTRA / MUITA FUSTALHA, QUE NÃO SABIEIS UM SÓ LUGAR … DE / QUE TÃO PODEROSA ARMADA PUDERA SAIR …” / DOS CAPITULOS ESPECIAIS / DA CIDADE DO PORTO / NAS CORTES DE 1436”.
Porém, com as letras apagadas ao longo dos anos, em 2023 de fato lia-se “... E VENDO E RE IS O CO O O / NDE ODERIO DE S Q SSO , / Q OR BE S / S S S … / Q E O OD R S …” / OS S / C E / S O”.
Rosângela Rennó, 2025
The monument consists of a sculptural group – representing men with tools and something resembling a sail – and a wall with inscriptions on both sides: a world map showing the locations conquered by Portugal and an excerpt from the records of the sessions of the “Portuguese Courts”. The excerpt in question refers to the Special Chapters of the City of Porto of the Courts of 1436, during the reign of King Duarte, which reported on the condition of the city of Porto, very important to the kingdom and its naval endeavours.
I photographed the monument in early 2024, driven by the desire to document this monument whose text was on the verge of illegibility. About 70% of the letters had disappeared, leaving only a trace, legible only when standing close to the wall. I wondered if the text had been gradually erased over more than 60 years of existence...
When I returned to Porto in 2025, I noticed that the text had been completely remade, with new metal characters, in addi- tion to a complete cleaning of the whole wall. An error in the replacement of the letters raised an interesting semantic/po- etic question in me, and I decided to re-photograph the text. In 1960, the word ‘sabeẽs’ from the original 15th-century text had been updated to contemporary Portuguese as ‘sabíeis’. In the restoration carried out in 2024, a letter ‘i’ was forgotten and then the verb tense was changed.
In the version prior to restoration, I also found the vacuum created by the randomness in the positioning of the remaining letters more interesting than the text itself, which today, for various reasons, seems very distant from our daily lives. My desire/purpose was then to restore the monument to the state of illiteracy produced by time. Furthermore, I believe that, in the indicative mode, an imperfect past is more appropriate than a false present.
Note: the subtitle is a reference to the poem by João Cabral de Melo Neto, entitled A educação pela pedra (Education by Stone), published in a book of the same name in 1966.
The original excerpt, written in archaic Portuguese, reads:
“E veendo el rrey esto em como ouue em ella grande poderio de naãos quando forom a cepta que forom bem lxx naãos e barchas afora outra mujta fustalha que nom sabeẽs huũ soo lugar na espanha de que tam poderosa armada pudera sair.”
The text inscribed on the monument, already modernized into contemporary Portuguese, read as follows:
“... E VENDO EL-REI ISTO, EM COMO HOUVE EM ELA / GRANDE PODERIO DE NAUS QUANDO PASSOU A CEUTA, / QUE FORAM BEM SETENTA NAUS E BARCAS, AFORA OUTRA / MUITA FUSTALHA, QUE NÃO SABIEIS UM SÓ LUGAR … DE / QUE TÃO PODEROSA ARMADA PUDERA SAIR …” / DOS CAPÍTULOS ESPECIAIS / DA CIDADE DO PORTO / NAS CORTES DE 1436".
However, after years of weathering, by 2023 it actually read as follows:
“... E VENDO E RE IS O CO O O / NDE ODERIO DE S Q SSO , / Q OR BE S / S S S … / Q E O OD R S …” / OS S / C E / S O”.
Rosângela Rennó, 2025