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a pedra da praia de Touros, 2025




cinco impressões fotográficas em papel Hahnemühle Baryta emolduradas, crochê, miniatura de chapéu de palha e coletânea de poemas, publicados em formato de livreto de cordel. Fotografias do Marco Quinhentista, na Praia do Marco, Touros, RN, in 1962. © Coleção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. IPHAN (1969-01-15)

75 x 25 cm
10x15 cm (livreto de cordel, formato fechado) 


five photographic prints on Hahnemühle Baryta paper, framed, with crochet, a miniature straw hat, and a collection of poems published in cordel booklet format. Photographs of the Marco Quinhentista, at Praia do Marco, Touros, RN, taken in 1962.
© Collection of the National Historical and Artistic Heritage Institute IPHAN (1969-01-15)
75 x 25 cm
10 x 15 cm (cordel booklet, closed format)


© Aad Hoogendoorn


Considerado o primeiro marco de posse de terra no ‘novo mundo’, por parte dos portugueses, o Marco de Touros foi instalado em 7 de agosto de 1501, durante uma missão de reconhecimento da costa brasileira liderada por Gaspar de Lemos e Américo Vespúcio. A pedra de lioz trazia em relevo a Cruz da Ordem de Cristo e as armas do então rei de Portugal, Dom Manuel. Com o passar dos séculos, a história sobre a origem do ‘marco’ foi sendo esquecida, sobretudo para a população local, mais humilde e pouco letrada, e não se sabe exatamente quando a pedra ganhou conotações místicas ou religiosas. Ao seu redor foram erguidos uma capela e um cemitério, e à pedra foram atribuídos poderes medicinais e mágicos. Em 1962, o padrão foi tombado como monumento e oficializado com o nome de Marco de Touros, mas os fiéis, que continuavam a retirar lascas da pedra para fazer chás de propriedades supostamente curativas, terminaram por quebrá-la em duas partes.    

A pedra corria sérios riscos de desaparecer, lapidada mil vezes por milhares de mãos. Após resistências da população local, o marco foi finalmente transferido para o Forte dos Reis Magos, em Natal, em 1976. Na praia de Touros foi instalada uma réplica, em concreto, o que obviamente desagradou os fiéis da região. Em 2018 o monumento deixou de ser acessível ao público em razão das reformas no forte e em 2021, foi finalmente encaminhado ao Museu Câmara Cascudo (UFRN), visando receber melhores condições de preservação, após tantos anos de desgaste natural e de intervenção humana. Resumindo um percurso histórico de mais de 500 anos, o ‘objeto do estado’ foi transformado em ‘objeto de culto’, até que foi finalmente monumentalizado e preservado como ‘objeto histórico’.  

Esta é a história oficial. Porém, existem outras... 

Um poema de autoria desconhecida sobre uma das lendas em torno do marco da praia de Touros integra o livreto em formato de ‘cordel’ que faz parte da obra. 


Rosângela Rennó, 2025

Considered the first landmark of territorial possession in the “New World” by the Portuguese, the Marco de Touros was installed on August 7, 1501, during a reconnaissance mission along the Brazilian coast led by Gaspar de Lemos and Amerigo Vespucci. The lioz stone bore in relief the Cross of the Order of Christ and the coat of arms of the then King of Portugal, Dom Manuel. Over the centuries, the history of the “marco’s” origin was gradually forgotten - especially among the local, humble, and largely illiterate population - and it is not known exactly when the stone began to acquire mystical or religious connotations. A chapel and a cemetery were built around it, and the stone was attributed with medicinal and magical powers. In 1962, the standard was listed as a protected monument and officially named Marco de Touros. However, the faithful, who continued to chip fragments from the stone to make teas with supposedly healing properties, eventually broke it into two parts.

The stone ran serious risks of disappearing, worn down a thousand times by a thousand hands. After resistance from the local population, the marco was finally transferred to the Forte dos Reis Magos, in Natal, in 1976. A replica made of concrete was installed on the beach in Touros, which, unsurprisingly, displeased the local devotees. In 2018, the monument was closed to the public due to renovations at the fort, and in 2021 it was finally transferred to the Museu Câmara Cascudo (UFRN), in order to receive better conditions for preservation after so many years of natural and human wear. Summarizing a historical trajectory of more than 500 years, the “object of the state” was transformed into an “object of worship,” until it was finally monumentalized and preserved as a “historical object.”

This is the official story. But there are others...

A poem of unknown authorship about one of the legends surrounding the Marco da Praia de Touros is included in the cordel-style booklet that forms part of the work.

Rosângela Rennó, 2025



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